quinta-feira, 7 de julho de 2011

GERAL: Do sureal ao bizarro

Após 50 dias na Índia, em Hyderabad, as diferenças culturais começam a influenciar no nosso dia-a-dia. 


É claro que o que é diferente ou até mesmo bizzarro pra nós, pode ser normal para os Indianos, e vice-versa. 


Para muitos norte americanos que conheço, comer um delicioso Frango ao Molho Pardo, iguaria da culinária mineira, é pra lá de bizarro.Mas pra quem conhece, o trem é pra á de bão. Para os menos avisados, o Molho Pardo é feito com o sangue da galinha, talhado no limão.


Mas...voltando ao universo indiano, abaixo estão alguns fatos e aspectos do cotidiano da da cultura local, que demandam um grande esforço de adaptação de nossa parte.



  • A tal da comida muito ardida. Tudo é ardido...não é possível comer um prato indiano que não tenha muuuuita pimenta, e considerando que o McDonalds, KFC, Pizza Hut, Dominos Pizza, Subway e muitos outros fastfoods oferecem um menu repleto de itens apimentadas, sobram realmente poucas opções pra quem não consegue se acostumar com a pimenta.
  • Falta de infraestrutura de esgoto e captação de água pluvial.  É muito difícil lidar com o mal cheiro em determinados lugares na Índia. Há lixo por toda parte. Mesmo no condomínio em que moramos, considerado aqui de classe média alta, parte da água de cozinha e lavagem de roupas vai para as ruas, e consequentemente o mal cheiro vai junto. Não há a menor preocupação em não jogar lixo nos espaços públicos.
  • Ruas sem calçadas: a maioria das ruas não tem calçadas, mas apenas um "acostamento" de terra que muitas vezes é usado pelas motos e autos (tuk-tuk) para fazer ultrapassagens. Quando chove, a coisa fica pior nas vias secundárias, pois a falta de captação de água pluvial faz com que poças de água se formem tomando parte das ruas e parte dos "acostamentos", onde supostamente os pedestres poderiam caminhar, então só resta dividir a rua com os carros, fugindo das poças e do atropelamento. O problema é agravado ainda mais com a total falta de respeito com os pedestres, assunto detalhado no próximo item.
  • Pedestres desrespeitados: Não há qualquer respeito com os pedestres no trânsito indiano, sejam eles mulher, velhos, crianças...nada é mais importante do que a necessidade dos carros e motos de seguir em frente o mais rápido possível. As faixas de pedestres são raras e quanto existem, não são respeitadas. Eles buzinam o tempo todo, sem parar, é realmente irritante. Buzinam e vão em cima uns dos outros ou dos pedesters. É muito comum ver os autos (tuk-tuk) e motos caminhando na contra-mão para ganhar tempo, e mesmo estes, buzinam e avançando sobre os pedestres. Pra atravessar uma rua movimentada é uma grande e perigosa aventura. E olha que estamos acostumados com o trânsito no Brasil, que não é aquela coisa quanto se trata de respeito ao pedestre. Mas isto aqui é realmente surreal.
  • Arroto de atendente é de matar: Eu e minha esposa, passeando de auto  na noite de Hyderabad, prontos para um delicioso jantar em um restaurante italiano, e de repente, o motorista do auto dá um sonoro arroto, sem a menor cerimônia. O clima foi para o espaço. Outro episódio semelhante aconteceu quando estávamos sendo atendidos em uma loja dentro de um bonito shopping center e no meio do atendimento, o vendedor arranca do fundo de seu ventre, um arroto pra lá de desconfortante.
  • Banheiros sem papel higiênico: Esse é outro capítulo complicado. A maioria das pessoas aqui não usa papel higiênico. Em praticamente todos os banheiros, existem aqueles chuveirinhos instalados do lado do assento sanitário. Só não me perguntem como é que a coisa acontece....prefiro não imaginar. Nos shopping centers mais novos, o uso do papel higiênico já é prática comum. Portanto, por onde quer se que se vá, levar papel higiênico na mochila é absolutamente essencial.
  • Comer com as mãos: Eu já havia comentado que os Indianos, na sua maioria, comem sem talheres. Em alguns restaurantes, até mesmo em shopping centers, é comum ver as pessoas comendo com as mãos. Pra nós que não temos o costume, é bastante desagradável assistir um indiano comendo com as mãos. Além de comer, eles ficam o tempo todo misturando com as mãos a comida no prato. Em um restaurante tipo buffet, por exemplo, eles acabam de pegar os alimentos no balcão, e já saem misturando com as mãos a caminho da mesa.
  • Falta de energia: Praticamente todos os dias, ficamos algumas horas sem energia elétrica em casa. Na semana passada, durante três dias, ficamos pelo menos umas 10 horas por dia sem luz. É comum durante o verão. A maioria das casas e apartamentos de melhor nível possui um sistema de no-break que alimenta os ventiladores de teto, algumas poucas tomadas e algumas lâmpadas da casa, evitando assim ficar totalmente sem energia. Nossa casa dispõe de um sistema que sustenta alguns pontos de luz por várias horas sem energia.
  • Falta de água: A falta de água é outro fato que causa bastante desconforto. A água que vem da rua é fornecida por apenas umas poucas horas na parte da manhã e é absolutamente insuficiente para uma casa com mais de uma pessoa. Resultado, na nossa casa, onde moramos em 6 pessoas, temos que comprar 5 mil litros de água a cada 3 (três) dias por aproximadamente Rup 750 (R$ 28). Finalmente conseguimos passar o problema para a empresa que administra a casa (limpeza, manutenção, etc) que verifica quando vai acabar, chama o caminhão de água, recebe a água, paga e depois manda a conta.
  • Padrão de limpeza: Outro aspecto difícil de conviver é com o padrão de limpeza dos Indianos. Em nossa casa, dispomos de um funcionário 24X7 que faz toda a limpeza, lava louças, roupas, passa, etc. O funcionário já foi trocado duas vezes, mas a limpeza é a mesma. Totalmente superficial. Nem vou dar detalhes porque são sórdidos. A solução é limpar nós mesmos os nossos quartos e banheiros, apesar da pseudo-limpeza que é feita pelo funcionário todos os dias. Fico tentado a dar alguns detalhes, mas prefiro não fazê-lo. Quase sempre, os empregados para este tipo de trabalho são homens.
  • Turistas pagam mais: Todos os serviços públicos de entretenimento (museus, parques, prédios históricos, alguns transportes públicos) tem preços diferenciados para o turista estrangeiro. Alguns preços são bastante diferenciados. Até 3 vezes mais. Em alguns casos, os estrangeiros residentes conseguem o preço estipulado para a comunidade local.  Em alguns parques, além do ingresso cobrado para cada visitante, é cobrado uma para a entrada de câmeras fotográficas. Se for de câmera de vídeo é mais caro. Perguntei se o preço pra entrar com uma câmera compacta era de ingresso de criança, mas ele não entendeu.
  • Negociando para pagar menos: Era bastante divertido no início ter que negociar preços com os motoristas de autos para ir a qualquer lugar. Eles querem esfolar os gringos (qualquer pessoa com cara de turista). Uma corrida que normalmente custaria Rup 60, pode custar até Rup 200 para os que desconhecem a prática. Ligar o taxímetro, nem pensar. Dependendo do lugar que você pega o auto, o preço é maior. Na saída de qualquer restaurante, shopping ou loja localizada em bairros nobres, o preço é sempre maior. Temos o custume de ir em um shopping chamado GVK One em Banjara Hills e pagamos aproximadamente Rup 100 (quase R$ 4) pra ir e dificilmente pagamos menos de Rup 150 pra voltar. Mas a negociação se torna desgastante como tempo, porque pra conseguir o preço mais próximo do justo, é preciso um ritual. Você chega já dando o preço, o motorista dá uma contra-proposta nas estrelas, e você simplesmente faz cara feia, fala não e sai caminhando a procura de outro auto. Ele grita, abaixa o preço e muitas vezes não chega no preço justo. Neste caso você deve realmente continuar andando a procura de outro auto. As vezes na frente de um shopping, grande empresa, prédios comerciais, existem dezenas de autos e você vai brigando no preço até achar um que aceita sua oferta. É claro que algumas vezes temos que ceder um pouco. Muitas vezes eles nos deixam irritados ao pedir valores extorsivos. Em centros comerciais populares, a negociação é absolutamente necessária. Nunca se deve aceitar o primeiro preço, seja em uma loja de jóias finas, tecidos ou bijuterias. 
Mas é preciso dizer, e deixar bem claro, que nem mesmo todas essas diferenças e desconfortos que as diferenças nos causam, em nada diminuem o valor da grande experiência de vida de viver por aqui. Os Indianos são extremamente gentis e alegres e sempre prontos a nos servir. A sua história, tradições, crenças e  costumes, muitas vezes, são intrigantes e proporcionam experiências e sensações como nenhum outro lugar.


Namastê !!

2 comentários:

Rogério disse...

Esse post ficou bem legal e interessante! Gostei muito.

André. disse...

Oi Cau! aí, guardando as devidas proporções, todas essas diferenças podem ser observadas no nordeste brasileiro...viví 15 anos em Maceió e lá é bem parecido com a India que vc descreve....rsrsrsrsrsrsrs um Abraço!